Educação pode ter R$ 4,5 bi a mais com repasse de royalties em 2013, diz relator
Nivaldo Souza - iG Último Segundo
- 16/04/2013 - São Paulo, SP
A comissão
especial responsável por debater a Medida Provisória
592/2012, que estabelece a aplicação de 100% dos royalties do
petróleo em educação, votará nesta
terça-feira (16) o relatório que será apresentado pelo
deputado Carlos Zarattini (PT-SP). A principal novidade do documento
será a inclusão dos contratos atuais de
exploração de petróleo no novo sistema de repasse dos
royalties. Caso a mudança seja aprovada até o meio do ano,
educação pode receber um aporte adicional de R$ 4,5
bilhões no orçamento de 2013, antecipa o deputado ao iG.
Segundo Zarattini,
os contratos atuais poderiam gerar um capital adicional total de R$ 9
bilhões à educação ao longo de 2013. Mas a nova
Lei dos Royalties (12.734/12) não pode ser aplicada retroativamente,
ou seja, sobre os royalties recolhidos no primeiro semestre. Por isso, o
relator da MP 592 calcula que somente metade do montante possa
reforçar o orçamento da educação entre julho e
dezembro.
A
projeção de Zarattini é de que os royalties somem R$
32 bilhões em 2013 e R$ 64 bilhões em 2022 – a
Agência Nacional de Petróleo (ANP) calcula R$ 31,2
bilhões e R$ 60,9 bilhões, respectivamente. “Com o que
estamos propondo, do total arrecadado, R$ 19 bilhões seriam para
educação em 2022”, afirma o parlamentar, com base nos
recursos extras que os contratos atuais renderiam.
As empresas
recolhem 10% do valor do petróleo na forma de royalties. Para
avançar nos blocos do pré-sal, elas pagarão 15%.
Embora os percentuais sejam fixos, o dinheiro que entra como royalties
é variável. Isso porque acompanham o preço do
petróleo no mercado mundial – quando o preço cai, a
arrecadação diminui e vice-versa.
A fórmula
de arrecadação se manteve mesmo com a derrubada dos vetos da
presidenta Dilma Rousseff pelo Congresso em fevereiro. A estimativa do
relator é de que a destinação dos recursos recebidos
pela exploração do petróleo ao sistema educacional
represente entre 1% e 1,5% do total obrigatório de 10% do Produto
Interno Bruto (PIB) definido para o setor pelo Plano Nacional de
Educação (PNE) .
Segundo o
deputado, a inclusão dos contratos atuais na Lei dos Royalties
não gera incerteza jurídica na previsão de
investimento das empresas – no texto original, a MP 592 vale para
contratos firmados a partir de dezembro de 2012 e não para os
anteriores. “Não haverá nenhuma insegurança
jurídica porque estamos mexendo em recursos da União”,
afirma, ressaltando que haverá manutenção dos
percentuais que as empresas pagam pelo risco ambiental da
exploração petrolífera, justificativa legal para a
existência dos royalties.
Propostas do
relator
O relator da MP
592 irá propor outras mudanças na nova lei dos royalties.
Entre os pontos de destaque está a proposta de
redefinição das linhas geográficas do mapa brasileiro.
Após ouvir críticas de parlamentares de Estados cujas costas
marítimas são estreitas - ou seja, com baixo potencial de
geração de royalties -, Zarattini decidiu pedir que o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) reestude as
linhas em até um ano após a aprovação do texto
alterado da MP 592. A medida pode render mais dinheiro para Estados como
Paraná e Piauí. “Há Estados muito prejudicados,
com linhas (geográficas) muito estreitas que reclamaram”,
diz.
O pagamento de
royalties pela exploração do óleo de xisto betuminoso,
extraído de rocha sedimentar, entrará no relatório. A
proposta será apresentada à Câmara hoje. Zarattini
argumenta que novas tecnologias desenvolvidas nos Estados Unidos para
extrair o óleo substituto do petróleo devem acelerar a
exploração do energético no Brasil nos próximos
anos e, por isso, é preciso incluir o segmento na Lei dos
Royalties.
O relator promete
também “pequenas correções” no sistema de
partilha. Zarattini não entra em detalhe de como serão as
mudanças, mas adianta que vai sugerir melhorias no sistema que
define 50% dos recursos do Fundo de Social do Pré-sal para compor
parte dos 100% dos royalties para educação.
O fundo, criado
pela lei 12.351 em 2010, é uma espécie de poupança que
repassará os juros para a educação. Ele é
abastecido com parte do valor pago pelas empresas para arrematar um bloco
de petróleo em rodadas de licitação – o chamado
bônus de assinatura.
O fundo é
constituído também com parte dos royalties do pré-sal
e bônus recebidos em blocos especiais pela União, além
de receita do governo federal com a venda de óleo e gás. A
cada ano, esse valor base pode crescer, ampliando os juros que irão
para a educação.
Saúde busca
fatia
Segundo Zarattini,
foram apresentadas cerca de 30 emendas à MP 592. O relator promete
aceitar algumas e recusar todas as que buscam vincular os royalties
à saúde. Uma das emendas sugere a destinação de
50% dos tributos gerados pela exploração do petróleo
para saúde e, os 50% restantes, para educação.
“Vamos propor 100% para educação, o que inclui
hospitais universitários, por exemplo. Há outros recursos
embutidos (nos 100%) para a saúde”, afirma.
A disputa deve
acirrar o debate na comissão especial da Câmara. Há uma
parte da base e da oposição pressionando pela divisão
da receita dos royalties. “A bancada da saúde é forte.
A comissão está dividida, não há maioria (para
nenhum lado)”, diz Zarattini.
A divisão
pode ser observada na fala oficial do líder do PMDB, Eduardo Cunha
(RJ). Ele afirma que ainda não definiu qual orientação
a bancada peemedebista deve tomar, mas sinaliza que não deve dar
aval imediato para a aprovação do relatório de
Zarattini. “Vamos pedir vista do relatório. Precisamos ver o
documento para entender bem o que ele propõe”, afirma.
Caso aprovadas
hoje, as alterações na MP 592 devem ir à
votação no plenário da Câmara antes de seguir
para o Senado, onde também precisará receber aval em
comissão especial e em plenário.
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